Eleição: Lula prioriza São Paulo, reduto tucano, e decide apostar no seu ex-ministro Fernando Hadad

Carlos Fehlberg

Em meio a crises e mudanças o tema em evidência voltará a ser a eleição municipal
Bem sucedido no lançamento de Dilma Rousseff até então sem experiência político-eleitoral, o ex-presidente Lula investe prioritariamente, agora em São Paulo, base maior do principal adversário, o PSDB, apostando em outro nome também sem experiência política, visando a prefeitura da capital paulista, maior reduto do adversário. E nessa sua investida, Haddad, já ganhou o apoio da corrente majoritária do PT para tornar-se o candidato do partido à Prefeitura de São Paulo.


Ele conquistou a adesão da CNB (“Construindo um Novo Brasil”), integrada pelo ex-presidente Lula e pela presidente Dilma Rousseff, que controla 60% do diretório nacional e cerca de 30% da cúpula municipal do Partido. Essa linha adotada por Lula compromete os planos da senadora Marta Suplicy, outra pré-candidata. O ministro está em grande atividade e o objetivo de Lula é conseguir sua indicação de forma unânime, dando-lhe força política.
Lula recebe título de Doutor "Honoris Causa" da UFBA/Foto: Ricardo Stuckert

Um vice, tipo Alencar
O ex-presidente Lula já pensa até no vice de Hadad e disse em Salvador que ele precisa de um vice com o perfil de José Alencar para vencer a eleição. Lula revelou sua estratégia numa entrevista, após receber o título de doutor honoris causa da Universidade Federal da Bahia. Segundo o ex-presidente, o PT, historicamente, sempre atingiu, no máximo, 30% do eleitorado paulistano, no primeiro turno da eleição para prefeito da capital. E, por isso, Hadad necessita de alguém forte também como vice para chegar aos 50%. E defende a tese de que o partido precisa de "gente nova" para vencer a eleição na capital paulista.

PMDB pensa em 2014...
Se Lula trabalha em São Paulo, o PMDB também desenvolve seus planos, mas voltados para dois anos após, na sucessão presidencial. Seu atual dirigente, o vice-presidente em exercício, senador Valdir Raupp, não perde oportunidade para dizer, com frequência, que o Partido pensa em candidatura própria em 2014 e cita o vice-presidente Michel Temer. Este se mantem alheio, mas cada vez mais atuante como nas recentes crises que envolveram ministros correligionários. E conta com um trunfo, a sua exposição, tendo assumido várias vezes ( como é o caso atual) a Presidência. O PMDB tem saudades do poder, mas numa dimensão maior que a desfrutada no momento...
É claro que o PMDB também valoriza as eleições municipais, mas sua estrutura já está montada e nomes não faltam para concorrer. É uma vantagem que leva, graças às estruturas montadas há tempos, mas sempre fortalecidas.

PSDB devagar
E a oposição? Não há sinais mais fortes sobre mobilização, a não ser aquela desenvolvida pelo senador Aécio Neves, mas visando a sucessão presidencial. José Serra está em silencio, apenas blogando e Fernando Henrique Cardoso cuja liderança foi tão festejada nos seus 80 anos também optou pela internet. Mas sem dúvida, as manifestações no seu aniversário lhe deram maior evidência ( retraído que estava) ao menos para influir. Quanto às disputas municipais o PSDB articula, mas sem alardear, segundo dizem seus líderes.
Lula sobre oposição: "a direita no Brasil, quando não tem o que fazer, a corrupção é o único tema dela.”

2012 próximo
Em meio a tudo isso há um fator quase decisivo que serão as eleições municipais do próximo ano. Para elas estão mais voltados PT e PMDB, hoje desfrutando do poder. Ainda que sem formar aliança em alguns redutos têm pela frente um suposto aliado, mas também uma incógnita que se chama PSD. Este ainda às voltas com seu registro definitivo, mas atento basicamente para São Paulo. Sua participação e opção no pleito paulista pode ter um outro tipo de influência, dependendo da posição que adotar. Se complicar os planos do PSDB terá cumprido papel importante para a base aliada e este é o temor que ainda ronda setores tucanos. Que aposta na justiça eleitoral que não concluiu o reconhecimento do novo Partido...

Tema e poder
Em meio a muito debate político, marcado por denúncias nos últimos meses, um tema já parece incorporado à próxima campanha política, a corrupção e medidas para enfrentá-la. Em torno dele girou o debate político em boa parte dos últimos oito meses, a ponto de provocar queda de ministros e uma tentativa frustrada da CPI da Corrupção. A oposição ao menos colocou a questão em debate, tentando formar uma “frente” e pode estendê-lo até as próximas eleições municipais. Pelo menos é sua expectativa. O meio político voltou seu foco muito mais para essas denúncias ( e exoneração de ministros) do que para outras questões administrativas como a crise econômica.

E tem Maluf...
O deputado federal Paulo Maluf disse ontem na criação do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de São Paulo, que seu partido pode apoiar o PSDB, do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, na eleição para a Prefeitura da capital do Estado em 2012: "O PP ( seu Partido) discute ter candidatura própria ou fazer coligação com o candidato do PSDB", afirmou o ex-prefeito, que disputou o cargo nas últimas três eleições. E assinalou ainda que “a decisão, com certeza, não sairá antes de abril", não afastando até mesmo concorrer de novo... Mas há mais: O deputado Gabriel Chalita do PMDB Jantou recentemente com Paulo Maluf em Brasília, em mais um encontro de uma longa série. Chalita também é nome cotado. O jogo está lançado e deve atrair mais lideranças além de Lula.

Resistir
O ex-presidente Lula recomendou que os ministros de Dilma Rousseff, que eventualmente tiverem seus nomes envolvidos com casos de corrupção, "resistam" e não renunciem com tanta facilidade. Ele deu essa declaração no início da tarde de ontem na capital baiana, logo após receber o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia (UFBA):- O político tem que ter casco duro.


Porque se cada político tremer a cada vez que alguém disser uma coisa errada dele, se ele não enfrentar a briga para provar que está certo, as pessoas vão saindo mesmo. E analisou alguns casos que envolveriam a saídas aparentemente precipitada de alguns integrantes do primeiro escalão de Dilma:
"Pelo que eu vi pela imprensa, o ministro Alfredo (Nascimento, dos Transportes) não foi a presidenta Dilma que tirou. Ela mandou Nascimento investigar (as denúncias na sua pasta). O ministro (Nelson) Jobim não saiu por corrupção, saiu por conta de outro problema. O ministro da Agricultura (Wagner Rossi), a presidenta Dilma defendeu publicamente ele, que depois renunciou. O ministro do Turismo teve um problema quando era deputado", declarou Lula no seu balanço. mas acabou admitindo que Dilma agiu corretamente.

Desde a UDN e JK...
O ex-presidente disse ainda que não "se assusta" com as denúncias de corrupção, pois na sua visão, "a direita no Brasil, quando não tem o que fazer, a corrupção é o único tema dela. Foi assim no tempo de Juscelino, quando a UDN cresceu por conta disso. De repente você vê o PFL falando de honestidade. Aí a gente não sabe se é piada. De qualquer forma, Deus deu boca para todo mundo falar e cada um fala o que quer.”

Denúncias
O presidente da Câmara, Marco Maia, disse que a Mesa Diretora só vai agir em relação às denúncias contra o ex-ministro do Turismo Pedro Novais se for provocada por algum partido ou parlamentar. Novais vai reassumir o mandato de deputado federal e enfrenta denúncias de desvio de servidores públicos para serviços pessoais. O líder do PSOL, deputado Chico Alencar defende que a Corregedoria da Câmara analise o caso de ofício. "Em tese, quem não pode mais ser ministro, em decorrência de problemas gravíssimos que se acumularam, não deveria poder ser deputado também. O primeiro passo é que a Corregedoria atue, de ofício, sobre essas denúncias. Nós queremos trabalhar com os instrumentos que a Casa tem”, disse. “E admitiu que o PSOL agirá caso as instâncias da Casa não o façam.”


Brasil e EUA lançam Parceria de Governo Aberto

A visita da presidente do Brasil aos Estados Unidos vive sua fase mais importante. Ontem, foi lançada a parceria do governo aberto entre os dois governos, um acordo inédito e que deve repercutir. E hoje será o histórico dia para a primeira presidente mulher do Brasil fazer o pronunciamento que abre oficialmente a Assembleia Geral da ONU. Na manhã de hoje, antes de fazer o discurso de abertura, Dilma terá ainda um encontro com o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.


Logo instalará a Assembleia Geral da ONU, às 9h (horário local). E deverá dizer, entre outras coisas, que a Organização das Nações Unidas tem de assumir a coordenação das estratégias para enfrentar a crise financeira mundial. Dilma fará um discurso em defesa do crescimento econômico, mesmo reconhecendo a necessidade de ajuste nas contas fiscais de países com problemas . O ajuste não pode ser feito só com políticas fiscais restritivas, defenderá a presidente brasileira. Informação do ministro Fernando Pimentel adianta que o pronunciamento será um alerta para a grave crise econômica e também de governança no mundo.

Presidente Dilma Rousseff durante reunião com presidente dos Estados Unidos, Barack “Governo aberto”
A presidente Dilma Rousseff falou, ontem à tarde, na cerimônia de lançamento da “Parceria para Governo Aberto” projeto de iniciativa dos governos norte-americano e brasileiro cujo objetivo é a transparência orçamentária e direito a acesso a informações públicas. "Trata-se de importante instrumento para fortalecimento das nossas democracias.


Congratulo-me com o presidente Obama por haver levantado esse tema", disse Dilma, sentada ao lado de Obama. E observou: "O uso das redes digitais é essencial para promoção de governos mais transparentes e acessíveis aos cidadãos, para melhoria dos serviços públicos, educação, saúde, segurança e meio ambiente. Essas redes são importante instrumento para nosso objetivo de fortalecimento da democracia", afirmou Dilma, em discurso de pouco mais de sete minutos. "O Brasil endossa o plano de ação para governo aberto", completou.
Dilma nos EUA: “Encontra-se em discussão no Congresso Nacional um projeto visando regulamentar acesso às informações públicas, com regras transparentes e prazos menores para o sigilo de documentos”.

46 adesões
O programa terá inicialmente a participação de 46 países e tem por objetivo possibilitar maior transparência dos governos. Dilma, ao final, informou que o Brasil irá sediar o próximo encontro da Parceria para Governo Aberto, em 2012. Minutos antes do lançamento, os presidentes tiveram encontro bilateral fechado no hotel, onde Dilma está hospedada. Ela citou avanços já feitos no Brasil nesse sentido, como o portal "Transparência Brasil" e o fato de a imprensa brasileira não sofrer nenhum tipo de constrangimento por parte do governo. "As convicções do governo nessa matéria são firmes e permanentes e deixei isso bem claro desde o discurso de posse". E seguiu dizendo que seu governo está ciente da importância de se propiciar prestação de contas, fiscalização e participação aos cidadãos. E citou ainda o projeto de ampliação ao acesso à banda larga.

Um compromisso
Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon
O governo brasileiro se comprometeu em aumentar informações disponíveis sobre atividades de governo além de ter políticas, mecanismos e práticas anticorrupção e assegurar transparência no gerenciamento das finanças públicas. O documento do programa "Open Government Partnership" foi celebrado pela presidente Dilma Roussef e pelo presidente Barack Obama e mais seis outros chefes de estado. O documento conclui negociações que se desenvolvem há quase um ano. Ele tem quatro pontos básicos: aumentar a informação disponível sobre as atividades do governo em todos os níveis; apoiar a participação da sociedade civil nas decisões; ter os padrões mais elevados de integridade profissional nas administrações públicas (políticas anticorrupção) e aumentar o uso de tecnologias para aumentar melhorar o acesso público à informação.

Contra corrupção
Ao falar na abertura desse encontro Dilma Rousseff destacou as ações do seu governo contra a corrupção e pela transparência dizendo serem "firmes e permanentes". E disse que, desde o início, avisou que não aceitaria erro ou malfeito. Acompanhada do presidente dos Estados Unidos e de uma plateia de chefes de Estado, a presidente citou como exemplos de transparência no Brasil a proposta de criação do fim do sigilo eterno dos documentos públicos, que hoje tramita no Congresso: “Encontra-se em discussão no Congresso Nacional um projeto de lei destinado a regulamentar o acesso às informações públicas, com regras transparentes e prazos menores para o sigilo de documentos”, disse a presidente.


E observou, a propósito, que o Brasil “avançou muito” no compromisso de garantir transparência à gestão pública. Comentou ainda projetos do governo federal de acesso atualizado a dados sobre orçamento como ferramenta anticorrupção. “Não se trata apenas de garantir acesso individual à execução do Orçamento do Estado ou acompanhamento da lisura e racionalidade da ação dos agentes públicos. Trata-se também de assegurar a prestação de contas, a fiscalização e a participação dos cidadãos, criando uma relação de mão dupla permanente entre o governo e a sociedade”, afirmou.

Consultas públicas
Dilma citou a realização no governo do ex-presidente Lula de consultas públicas sobre projetos do governo. “Recorremos às consultas públicas para a preparação de planos e programas de governo, entre os quais o Plano Plurianual 2012/2015 e as propostas para a Conferencia das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que o Brasil terá honra de sediar.”
E ainda destacou que o país pretende, como próximo passo, desenvolver suas próprias ferramentas livres que funcionem em qualquer dispositivo. No ano passado o governo brasileiro foi convidado a integrar o programa como coautor. E na solenidade de ontem, Dilma, Obama e mais seis chefes de Estado assinaram compromisso de investir em transparência governamental.

Imprensa
Dilma citou, ainda, como setores vigilantes contra a corrupção a imprensa brasileira, o Ministério Público e a Controladoria Geral da União. Obama admitiu que Brasil e África do Sul estão colocando mais informações on-line, ajudando as pessoas a controlar a maneira como os governantes gastam o dinheiro dos seus impostos.

A crise
Antes, Dilma teve reunião fechada com Obama para discutir crise internacional. Ela se preocupa com as medidas tomadas pelos EUA para combater a turbulência financeira. E chegou a dizer que falta ao país "decisão política" que estimule investimentos e "recicle" o endividamento da população.

Condecoração
A presidenta Dilma Rousseff será homenageada em Nova York. Ela receberá o prêmio na categoria Serviço Público, concedido pelo Instituto Woodrow Wilson International Center for Scholars. O órgão premia as personalidades que colaboram para os avanços intelectuais e científicos no mundo. O prêmio, nas categorias Serviço Público e Cidadania Corporativa, é concedido a políticos, empresários, líderes de organizações cívicas, artistas e pesquisadores que atuam para melhorar o mundo. A inspiração para a homenagem são as orientações pregadas pelo ex-presidente norte-americano Woodrow Wilson (1913 -1921), que recebeu o Prêmio Nobel da Paz.

Reuniões
Ontem, Dilma se reuniu ainda com os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e do México, Felipe Calderón. Em pauta os impactos da crise econômica mundial. E ainda participou de dois grandes eventos – um destinado à discussão sobre doenças crônicas não transmissíveis e outro sobre a presença das mulheres em discussões políticas. Bem-humorada, a presidenta confessou, comentando o compromisso de hoje, que “dá um frio na barriga” fazer o discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU

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